quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Devaneio

Tudo era tão imaginado do jeito que ela queria, e queria que aquilo tudo fosse perfeito. Quando desembarcou daquele voo longo e sufocante não imaginou que ele realmente estaria lá. Ela saiu do avião, pegou as bagagens de mão do bagageiro, foi à sala de malas, não pode deixar de reparar o quanto elas demoram rolando na esteira. Pegou-as e prendeu a respiração. Sim! Puxou todo o ar e foi com toda a coragem que nela havia. Saiu. No meio de tanta gente, ela viu. Impossível não reconhecê-lo, com aqueles cabelos escuros, desgrenhados, para serem cortados, jogados no rosto, de um jeito qualquer que ela gostava. Impossível não reconhecê-lo, com aquele sorriso, que ela sempre viu sendo uma retribuição do seu, mas nunca fora real. Ele era seu desejo mais impossível, um tipo de sonho reprimido que só iria acontecer de uma maneira com duas opções. Ou ela realmente conseguiria viajar, ou ela sonharia com a realidade acontecendo. Ele estava lá. Sim! Com seu mais lindo e audacioso sorriso, sua camisa de botão quadriculada, seu jeans escuro e seu olhar terno. Fora a primeira vez que ela vira aquele olhar, um olhar real. Ela correu. Deixou bagagens, deixou passado, e correu. Como se a saudade estivesse sendo esgotada por completo. Aquela saudade que nunca existiu, de fato, mas era realmente sentida em algum lugar do coração, ela era carnal. O abraço foi retribuído com tal carinho e amor que recebeu. E eles olharam-se, ela com aqueles profundos olhos castanhos, que sempre diziam mais do que as suas próprias palavras conseguiam dizer, e ele com aqueles olhos verdes tão leves que ela seria capaz de mergulhá-los, tão fundo quanto mergulhar na imensidão do mar esverdeado. Falar? O quê? Já sabiam mais do que esperavam saber. Ela tinha muitas dúvidas, elas seriam questionadas a qualquer momento. Esse momento era muito mágico e surreal para ser encharcado de perguntas. Ele tinha mais ainda de curiosidade, mas seria deixada de lado. Eles deram-se as mãos e foram. Guardadas as coisas, vagaram no carro dele por algumas horas. Chegando lá, mal esperaram a porta abrir, beijavam-se feito dois amantes. E fizeram amor, o quanto puderam, o quanto quiseram. Para matar as saudades daqueles momentos íntimos e intocados. Ele adormeceu, ela olhou-o com ternura, e amor, e vontade, e saudade. Um ao lado do outro, os dois ficaram intimamente juntos. Abraçados. De repente, ela acordou atordoada, onde ele estava? Reparou ao redor. Pensando bem, na casa dele não havia parede cor-de-rosa. Claro que não. Sua opção não foi a mais provável, mas sim a mais possível. Ela tornou a dormir.

17 de Outubro de 2009
Liala Leão

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